quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O pensamento de Eric Hobsbawn em Veja???? Ah, sim, uma crítica a ele!


No artigo titulado “Foi-se o martelo”, assinado pelo jornalista brasileiro Eurípedes Alcântara, diretor editorial da revista Veja (revista semanal de maior circulação no país), somos levados a repensar as obras do historiador inglês marxista Eric Hobsbawn, morto aos 95 anos no último dia 1º de outubro. O artigo foi publicado em duas páginas na edição 2290 – ano 45 – nº 41, de 10 de outubro de 2012.  (Para ler trechos da matéria online, clique aqui)
Ao invés de produzir um texto de veneração ao historiador, como geralmente acontece após a morte desse importante pensador, o jornalista contribui com um texto crítico sobre aquele que, segundo Alcântara, não faz parte do time inglês de historiadores honestos e sagazes da história contemporânea – rigorosos, originais, honestos. Hobsbawn, para Alcântara, deixou “sua devoção religiosa ao marxismo embaçar sua visão do século XX”.
Durante o texto, o jornalista deixa claro, no entanto, que sua aversão não é direcionada apenas ao historiador, mas aos crentes marxistas (comparando o comunismo ao fanatismo religioso). Para Alcântara, Eric Hobsbawn ”foi um comunista que fez coisas notáveis quando lúcido”. Porém, como é exposto no texto, o historiador teve apenas minutos de lucidez durante a vida. Seus livros seriam a prova de que o historiador não enxergava os próprios erros uma vez que “trazem uma coleção disciplinada, fervorosa e ardente de justificativas das atrocidades comunistas”, que se valiam em “omissões, evasões, contradições e circunavegações”.
Sabemos que a isenção, mesmo em textos científicos, é inexistente. Nunca, no entanto, deve deixar de ser perseguida, sob pena de desqualificar o estudo. Como área das Ciências Humanas, diferentemente das exatas, a História segue a regra da busca inalcançável pela isenção.  
No jornalismo, a regra é a mesma quando da redação de notícias, buscando o equilíbrio na confrontação das fontes. Para os julgamentos, existem recursos como os editoriais, as colunas e os artigos, como esse de Eurípedes Alcântara.
Ao acusar Hobsbawn de partidarismo, o jornalista ofende o trabalho de um dos mais importantes historiadores, cujas obras são referência nos diversos níveis acadêmicos. No entanto, cumpre o papel de articulista, manifestando seu pensamento em texto persuasivo.  A Associação Nacional de História (ANPUH)  não entendeu isso ao repudiar a crítica na página do Facebook da entidade: “Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada”.
Num país democrático, onde há liberdade de pensamento, ambas as manifestações tiveram seu espaço. Na nossa avaliação como estudantes, conhecendo a proposta editorial de Veja, não houve surpresa ao ler um artigo como esse publicado ali.
Nosso contato inicial com o pensamento de Eric Hobsbawn, como calouros de economia, deu-se apenas numa obra (Da Revolução Industrial ao Imperialismo). Na leitura, é possível identificar a ideologia do autor. Quando trata, por exemplo, dos resultados humanos da Revolução Industrial entre 1750 e 1850, e descreve a mudança significativa na vida dos trabalhadores:
“O mesmo não acontecia aos pobres, aos trabalhadores (que, pela própria essência, constituíam a maioria), cujo mundo e cujo estilo de vida tradicionais tinham sido destruídos pela Revolução Industrial, sem que fossem substituídos automaticamente por qualquer outra coisa. É essa desagregação que forma o cerne da questão dos efeitos sociais da industrialização” (p.79).
Porém, trechos como esse, na nossa opinião, não desmerecem sua obra. Até mesmo para o autor da crítica, que certamente foi seu leitor. Eurípedes Alcântara prefere outros a Hobsbawn, mas não ignorou sua obra.  
Quanto à produção de obras que narram a história do século XIX, como a citada acima, o jornalista até elogia o “talento, capacidade de trabalho e domínio das fontes” de Hobsbawn.
O problema para Alcântara tem início nos relatos posteriores quando, para ele, os compromissos ideológicos do inglês estavam acima do dever de relatar a história com objetividade e rigor, omitindo fatos que contradissessem seu credo.
O jornalista cita, como exemplo clássico do contágio ideológico do historiador nas suas obras, a defesa ao ditador soviético Josef Stalin em A Era dos Extremos: “Nas condições existentes nos anos 1930, o que Stalin fez na Rússia, por mais chocante, foi um problema russo, enquanto o que Hitler fez foi uma ameaça para todo o mundo”.
Nessa parte, o articulista acusa o inglês de cumplicidade ao ditador, uma vez que, em 1939, Stalin e Hitler se aliaram para saquear e dividir a Polônia entre eles, que culminou no Massacre da Floresta de Katyn, quando, a mando de Stalin, vinte mil oficiais poloneses foram mortos a tiros de pistola.  Sobre a aliança, Hobsbawn apenas menciona no livro que “a União Soviética se recusou a continuar se opondo a Hitler”.
O autor apresenta ao longo do artigo crimes comunistas que foram praticados, segundo Hobsbawn, por culpa do capitalismo.
Para Eurípedes Alcântara, além de abraçar as loucuras stalinistas, o inglês manteve o pensamento comunista mesmo em questões polêmicas. Para ilustrar sua opinião, o jornalista citou uma entrevista concedida pelo historiador a um canadense na televisão. Quando questionado se o assassinato de 20 milhões de pessoas por Stalin e os 55 milhões a 65 milhões de vítimas de Mao Tse-Tung na China teriam sido justificados caso a utopia comunista tivesse se concretizado, Hobsbawn respondeu que sim.  

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